10 segundos – Sem Noção

    No posto enquanto Marcelo ajudava Viviane, Daniella subia em sua moto, imitada por Tiago, que fazia o mesmo em sua Suzuki Katana 750. Daniella já pensava em tomar o rumo de um bairro de classe alta, totalmente deserto a altas horas, quando Tiago passou por ela fazendo sinal para que ela o seguisse. Sem entender direito qual caminho ele pretendia tomar, ela manteve-se em sua cola, mesmo sentindo que aquela não era uma boa ideia.
    Tiago nunca bateu muito bem da cabeça, ele era o sem-noção, as manobras ousadas de Marcelo não eram nada perto das loucuras que ele era capaz de cometer. Naquele momento, quando a policia chegou tentando deter o maior número de pessoas possível, uma idéia no mínimo duvidosa aflorou em sua mente: Se ele entrasse na avenida, se mantendo na contra-mão, poderia despistar facilmente as viaturas. Seguindo essa idéia absurda, ele se atirou na contra-mão, Daniella, logo atras, repetia seus movimentos e torcia para que ele não errasse.
    À medida que avançava, Tiago se deparava com faróis que surgiam aleatoriamente e tinha de decidir, em uma fração de segundo, para qual lado desviar. Uma decisão mal feita levaria a um acidente fatal e sem chances de sobrevivência. Quando uma série de carros surgiu em sua frente, ele, sem opção melhor, passou em um espaço ínfimo entre o meio-fio e um Audi, seu corpo se inundou de adrenalina. Aquele instante pareceu durar uma eternidade onde ele sentia sua moto vibrando sobre seu corpo e seu coração em seu peito quase explodindo. Era para momentos como esse que ele vivia, momentos onde nada mais importava a não ser o presente, onde ele podia deixar de lado todas as preocupações e se concentrar de forma completa. Depois de um trecho de aproximadamente meia milha, eles sairam da avenida e voltaram a trafegar no sentido normal. Como Tiago havia previsto nenhuma viatura ousou segui-los. Seguindo seu plano, ele se dirigiu para um dos acessos à BR que eles pretendiam pegar, chegando lá ligou para Viviane.
    – E ai Tiago? O que a Vivi disse? – Interpela Daniella.
    – Ela não disse nada. Quem atendeu foi o Marcelo, ele está com ela e disse que daqui a pouco eles estão chegando aqui.
    – Espero que ela não tenha tido de passar pelo que eu passei. – Completa Daniella de cara feia.
    – Passado pelo que? – Diz Tiago sem entender ao que ela se referia.
  $nbsp – Pelo que você me fez passar. Ou já esqueceu que nós quase nos matamos entrando na contra-mão, e além de fazer uma loucura dessas você me arrasta junto.
    – Desculpa Dani, eu só queria te salvar de ser detida. – Se defende Tiago ofendido por ela não ter reconhecido seu gesto de cavalheirismo.
    – É, me salvou de ser detida mas quase me mandou pro IML. Você e o Marcelo ainda acabam me matando.
    Aproveitando o gancho pra mudar de assunto Tiago inicia – Falando nele, foi nesse trecho que nós nos conhecemos, eu tinha saído pra experimentar alguns ajustes novos no meu carro quando vi aquele carro atrás de mim com o alerta ligado. Não pensei duas vezes, seria a oportunidade ideal pra saber se os ajustes tinham efeito. Liguei o alerta e deixei só o farolete, nisso começamos a correr pela anel. Parecia que o Marcelo ia me fazer comer poeira, afinal de contas, o ajuste no meu carro além de não ter melhorado havia piorado a performance, foi quando o carro dele começou a falhar e ele teve de encostar. – Nesse ponto da narrativa Tiago simplesmente pára (parou) procurando saber se devia continuar ou não.
    – Nossa! Achava que vocês eram amigos de infância ou algo do tipo, mas o que aconteceu depois que o carro do Marcelo deixou ele na mão?
    – Eu parei pra ajudar e aproveitar e tirar uma com a cara do motorista, mas o Marcelo foi super gente boa. Quando eu cheguei, ele ja estava com uma lata de energético na mão e todo tranqüilo, nem aí pro fato do carro estar quebrado. Aí me ofereci pra ajudar, ver se podia arrumar o carro dele, ele disse que não precisava que o seguro vinha rebocar o carro, só consegui convencer ele quando disse que queria consertar o carro dele pra terminar o pega. Quando abri o motor e vi que era todo original percebi que o cara dirigia bem, não é qualquer um que ia mandar bem daquele jeito com motor original. Consertei o carro dele e fomos correndo até o posto, depois desse dia... – Tiago é interrompido, Viviane e Macelo tinham acabado de chegar.
    Os dois sairam de seus respectivos carros ao mesmo tempo, mas imediatamente Marcelo percebeu que de algum modo Viviane ainda estava incomodada com o que acontecera. Tentando evitar muitas perguntas sobre o que tinha rolado desde que eles haviam se separado, ele imediatamente perguntou a Tiago como tinha feito pra livrar sua própria cara. Enquanto Tiago deixava Marcelo a par do acontecido e Daniella salientava a insanidade do mesmo, Marcelo observava Viviane que estava fingindo ouvir a conversa, mas ele sabia muito bem que a cabeça dela não estava ali, o que realmente o incomodava era o que ela estaria pensando no momento.
    Absorta em seus pensamentos, mas prestando suficiente atenção na conversa para saber quando rir ou soltar uma exclamação, Viviane tentava em vão ignorar tudo o que havia acontecido. Sua maior vontade era simplesmente voltar para casa agora e poder dormir. E amanhã tentar convencer sua própria consciência a esquecer tudo isso, mas com certeza isso geraria muitas perguntas e ela não queria atrapalhar a noite de ninguém, nem parecer mais fraca do que já tinha se mostrado nessa noite. Então com um ultimo suspiro ela colocou tudo de lado e entrou forçadamente no clima de festa.
    Mais controlada agora Viviane, decidiu tomar partido na conversa:
    – E ai, pessoal, nós vamos ou não para a rave? Se vocês continuarem de bobeira a gente chega lá ao nascer do sol!
    – É, a Vivi está certa! Eu me mato se chegar lá e só ouvir moornig! – Completou Tiago.
    – Marcelo, quero ver você acompanhar a gente, afinal de contas, você já se atrasou uma vez hoje. – Disse Daniella.
    – Dani, pode ter certeza que você vai me ver o tempo todo na sua frente. – Retrucou Marcelo aceitando a provocação – Vamos correr!